Teoria da Comunicação

A teoria da comunicação caracteriza-se pela diversidade de perspectivas que confluem no seu vasto âmbito; procurou-se reflectir essa riqueza de perspectivas, abordando a semiótica, a teoria de sistemas, o hipermédia, entre outras.

Definições:

Para Colin Cherry, comunicação significa "compartilhar elementos de comportamento ou modos de vida, pela existência de um conjunto de regras".
Berlo, entende comunicação "como sendo o processo através do qual um indivíduo suscita uma resposta num outro indivíduo, ou seja, dirige um estímulo que visa favorecer uma alteração no receptor por forma a suscitar um resposta"
Abraham Moles, define comunicação "como o processo de fazer participar um indivíduo, um grupo de indivíduos ou um organismo, situados numa dada época e lugar, nas experiências de outro, utilizando elementos comuns"

Conceitos:

1. Conceito Etimológico
Comunicação vem do latim communis, comum, dando idéia de comunidade.
De acordo com o Padre Augusto Magne, comunicar significa participação, troca de informações, tornar comum aos outros idéias, volições e estados d’alma.
Esse conceito preza o fato das pessoas poderem entender umas às outras, expressando pensamentos e até mesmo unindo o que está isolado, o que está longe da comunidade.

2. Conceito Biológico
Nesse conceito, a comunicação é relacionada com a atividade sensorial e nervosa do ser humano.
É através da linguagem que é exprimido o que se passa em seu sistema nervoso.
Algumas espécies têm a necessidade de intercambiar informações apenas para multiplicar-se, enquanto a espécie humana procura comunicar-se intensamente com outros porque necessita participar ativamente da sua própria evolução biológica.
Segundo Wilbur Schramm, a comunicação segue a seguinte ordem: primeiro a coleta de informações pela atividade nervosa, a armazenagem, a disposição da informação, a circulação das mesmas para os centros da ação e o preparo de ordens que resultam no envio de mensagens.
Um conceito parcial, pois a comunicação não se resume a impulsos nervosos. Existe, por exemplo, o lado emocional que contribui para a formulação das idéias. A inteligência emocional é parte biológica do ser humano, uma vez que sentimentos como ira e alegria alteram batimentos cardíacos, influenciando pensamentos e reformulando informações.

3. Conceito Pedagógico
A comunicação é uma atividade educativa que envolve troca de experiências entre pessoas de gerações diferentes, evitando-se assim que grupos sociais retornem ao primitivismo.
Entre os que se comunicam, há uma transmissão de ensinamentos, onde modifica-se a disposição mental das partes envolvidas.
Pedagogicamente, é essencial que a educação faça parte de uma comunidade, para que os jovens adaptem-se à vida social, sem que cometam erros do passado.

4. Conceito Histórico
Baseada na cooperação, a comunicação no conceito histórico funciona como instrumento de equilíbrio entre a humanidade, neutralizando forças contraditórias. Desse ponto de vista, o conceito propicia o resgate diacrônico imprescindível ao avanço do homem em direção ao futuro.
Não fossem os meios de comunicação, ampliando as possibilidades de coexistência mais pacífica entre os homens, estes já estariam extintos em meio às disputas por poder.
E não menos importante que os conceitos anteriores, a comunicação atua na forma de sobrevivência social e no fundamento da existência humana.

5. Conceito Sociológico
O papel da comunicação é de transmissão de significados entre pessoas para a sua integração na organização social.
Os homens têm necessidade de estar em constante relação com o mundo, e para isso usam a comunicação como mediadora na interação social, pois é compreensível enquanto código para todos que dela participam.
Além desse aspecto, os sociólogos entendem a comunicação como fundamental nos dias de hoje para o bom entendimento da sociedade e na construção social do mundo.
Quanto mais complicada se torna a convivência humana, mais se faz necessário o uso adequado e pleno das possibilidades de comunicação.

6. Conceito Antropológico
A tendência predominante em alguns estudos da Antropologia é a de analisar a comunicação como veículo de transmissão de cultura ou como formador da bagagem cultural de cada indivíduo.
Esse é um assunto de grande importância, haja vista o surgimento da cultura de massa neste século XX, transformando as formas de convivência do homem moderno. Tanto que, dentre as principais teorias da comunicação de massa, encontramos a Teoria Culturológica, desenvolvida por Edgar Morin.
Os antropólogos e comunicólogos não devem esquecer que sem o desenvolvimento da comunicação, não se poderia estudar o homem em suas origens

Semiótica:

Na moderna acepção, desenvolvida por Charles S. Pierce , a semiótica é a doutrina dos signos, tendo por objecto o estudo da natureza, tipos e funções de signos. Devido aos desenvolvimentos das últimas décadas na linguística, filosofia da língua e semiótica, o estudo dos signos ganhou uma grande importância no âmbito da teoria da comunicação. Basicamente, um signo é qualquer elemento que seja utilizado para exprimir uma dada realidade física ou psicológica; nesta relação, o primeiro funciona como significante em relação à segunda, que é o significado (ou referente); as relações entre significantes e significados podem ser de 2 tipos: denotação e conotação .
Um som, uma cauda de cão a abanar, um sinal de trânsito, um punho erguido, um caractere escrito são exemplos (entre outros possíveis) de signos; é importante realçar que os signos por si próprios nada significam, para se tornarem compreensíveis pressupoem a existência de um código que estabeleça, dentro duma dada comunidade, a totalidade das relações entre significantes e significados, por forma a tornar possível a interpretação dos signos . Desta forma, cada comunidade desenvolve os seus sistemas de signos e respectivos códigos, por forma a viabilizar a comunicação entre os seus membros; à medida que se vai subindo na cadeia biológica as necessidades de comunicação vão-se intensificando, o que se reflecte naturalmente em sistemas de signos e códigos de comunicação cada vez mais sofisticados.
Muitos códigos têm sido estabelecidos dentro das sociedades humanas, destacando-se como os mais importantes os códigos da língua (falada e escrita) e os códigos não verbais (movimentos e posturas do corpo, indicações vocais e paralinguísticas, ,jogo fisionómico, aparência física, contacto, factores ambientais e espaciais); a criação dos signos não verbais foi anterior à criação dos signos verbais, sendo as duas formas de comunicação inseparáveis . Em semiótica, de acordo com a divisão feita por C.W.Morris , os signos são estudados em três níveis:

1) sintáctico (analisa a estrutura dos signos, o modo como se relacionam, as suas possíveis combinações, etc)

2) semântico (analisa as relações entre os signos e os respectivos significados)

3) pragmático (estuda o valor dos signos para os utilizadores, as reacções destes relativamente aos signos, o modo como os utilizam, etc).

Existem numerosas classificações de signos na literatura científica; na sua diversidade, os signos fornecem os meios para definir ou referir tudo aquilo que apreendemos através dos sentidos, bem como o que pensamos, sabemos, desejamos ou imaginamos; os signos permitem a conceptualização (a formação de uma ideia sobre uma realidade não presente),influenciam fortemente o comportamento humano, bem como a nossa percepção do mundo (sendo provável até que estejam na origem do acto de pensar).

Linguagens:

Na Era de Emerec a palavra linguagem será empregada num sentido geral - aquele que o Petit Robert dá «por extensão» como sendo: «todo o sistema de signos que permite a comunicação entre os homens ' ou possibilita que um conjunto complexo se torne inteligível». Certos linguistas preferem guardar a palavra linguagem para descrever «a função de expressão do pensamento e da comunicação entre os homens, exercida pelos órgãos de fonação (palavra) ou por uma notação de signos materiais (escrita)» (Petit Robert, 1967). A este tipo de linguagem, tipicamente humano, chamaremos a linguagem verbal, para sublinharmos bem que ele se baseia no verbo, na palavra.
Para estudar as linguagens, recorremos à semiologia, essa «ciência que estuda a vida dos signos no seio da vida social», e da qual o pai da linguística moderna, Ferdinand de Saussure, pressentiu a necessidade: «ela ensinar-nos-á em que consistem signos e que leis os regem. Como ainda não existe, não se pode dizer o que virá a ser; mas ela tem direito à existência, o seu lugar já está determinado».
De facto, mais de sessenta anos passados sobre esta declaração, não se pode dizer que a semiologia já esteja organizada e que as suas relações com a linguística que, segundo Saussure, não era então uma parte dessa ciência geral, sejam perfeitamente claras. Ao contrário, «surgem por todo o lado teorias e modelos» linguísticos, hipóteses de terminologia até ao esmigalhamento, até ao babelismo » . Não tentaremos acrescentar novas teorias. Contentar-nos-emos com utilizar a distinção fundamental de Saussure, entre língua e palavra, alargando a nossa noção de linguagem. Recorreremos igualmente ao seu sistema de análise do signo, significante, significado, que aplicaremos, não só ao signo linguístico, mas também a todos os signos. 0 audio-scripto-visual será uma classificação operacional.
...
As linguagens são consideradas como sistemas de signos, ... distingue as linguagens de base, que são unidimensionais (no sentido em que jogam com um único modo de percepção) e as linguagens sintéticas, que implicam a fusão de duas linguagens de base; chega até à linguagem polissintética.
As linguagens de base são três: linguagem audio; linguagem visual e linguagem scripto, que diz respeito ao mundo especial da significação, a scriptosfera, criado por linguagens hibridas, tais como a escrita fonética, a notação musical e certas linguagens-máquinas.

Teoria de Sistemas:

Os desenvolvimentos mais recentes em teoria da comunicação remetem para a teoria de sistemas e para a cibernética.
A teoria geral de sistemas foi desenvolvida a partir dos anos 40 pelo biólogo L. von Bertalanffy , ao procurar um modelo científico explicativo do comportamento de um organismo vivo. Um sistema define-se como um todo organizado formado por elementos interdependentes, que está rodeado por um meio exterior (environment); se o sistema interage com o meio exterior é designado por sistema aberto; as relações do sistema com o meio exterior processam-se através de trocas de energia e/ou informação e designam-se por input ou output; os canais que veiculam o input/output de informação ou energia designam-se por canais de comunicação; observe-se a figura representativa de um sistema aberto em interacção com o meio:


Uma máquina, uma bactéria, um ser humano, as comunidades humanas são exemplos de sistemas abertos, que se caracterizam na sua generalidade pelo seguinte:
1) O todo é superior à soma das suas partes e tem características próprias.
2) As partes integrantes dum sistema são interdependentes.
3) Sistemas e subsistemas relacionam-se e estão integrados numa cadeia hierárquica (nesta perspectiva pode encarar-se o universo como uma vasta cadeia de sistemas).
4) Os sistemas exercem autoregulação e controlo, visando a manutenção do seu equilíbrio.
5) Os sistemas influenciam o meio exterior e vice-versa (através do input/output de energia e informação).
6) A autoregulação dos sistemas implica a capacidade de mudar, como forma de adaptação a alterações do meio exterior.
7) Os sistemas têm a capacidade de alcançar os seus objectivos através de vários modos diferentes.

A cibernética (ou teoria do controle) foi desenvolvida pelo matemático N. Wiener , tendo por objecto o estudo da autoregulação dos sistemas. De acordo com Wiener, os dispositivos automáticos e as criaturas vivas apresentam fortes semelhanças na sua estrutura e funcionamento, enquanto sistemas abertos: o príncipio fundamental é o da manutenção da ordem no interior dos sistemas (ou entre 2 sistemas); pela 2ª lei da termodinâmica, o caos sobrevirá sempre sobre a ordem no interior dos sistemas, (o reverso nunca ocorrerá espontaneamente); daqui advém a necessidade dos sistemas se autoregularem no sentido de manter a ordem e combater o caos; este processo designa-se por regulação e implica a recepção e o processamento de informação do output sobre o estado do sistema (feedback) e posteriormente a entrada dessa informação no sistema para que este corrija os erros (retroacção); observe-se a figura representativa de um sistema com mecanismos de regulação e retroacção:

Legenda: O input (I) entra no sistema (S); O output sai do sistema; informação sobre O feedback é recolhida e processada e volta a entrar no sistema (regulação e retroacção); M mede a tolerância para uma margem de desvio;
De acordo com a teoria cibernética, os príncipios da regulação e retroacção são aplicáveis universalmente: os sistemas inorgânicos regulam-se através de operações de massa ou energia (exemplos: um planeta, uma ponte, uma pedra); os sistemas orgânicos regulam-se através de operações de informação e/ou energia (exemplos: os seres humanos (em que a dor, o frio, etc resultam em retroacção, neste caso tomar um analgésico ou vestir um casaco), os grupos, as instituições e sociedades (mantêm o bom funcionamento e a coesão interna através do feeback de informação e operações de regulação).
A relação entre a cibernética e a teoria de sistemas resulta evidente: ambas estudam os sistemas, mas a cibernética tem um âmbito mais restrito porque se especializa na autoregulação dos sistemas. A teoria de sistemas e a cibernética têm sido aplicadas com êxito a inúmeras áreas de conhecimento, nomeadamente as ciências sociais e a teoria da comunicação ( emissor e receptor podem ser considerados como 2 sistemas funcionando mutuamente como meio exterior, ou como 2 subsistemas integrados num sistema mais vasto).

Hipermédia:

Os sistemas de hipertexto fornecem um mecanismo para armazenar e consultar de modo não sequencial, de uma forma eficaz e rápida, grandes quantidades de informação. A informação é armazenada em blocos, que estão ligados (por meio de links) por forma a estabelecer uma rede. O hipertexto é um sistema baseado exclusivamente em texto, pelo que os diferentes blocos contêm apenas informação textual.
O hipertexto pode ser visto como uma forma de escrita não linear, onde um utilizador pode seguir links entre blocos, para ter acesso à informação emulando as associações que o seu cérebro lhe sugere. O conceito fundamental de escrita não linear é anterior ao advento dos computadores: as enciclopédias têm já desde o início algum processamento de informação através de links. Vannevar Bush é considerado o pioneiro do hipertexto.
Hipermédia é o hipertexto de multimédia (embora os termos hipertexto e hipermédia sejam frequentemente usados intermutavelmente): os blocos de informação não são restringidos a texto e podem conter som, gráficos, vídeo, animação ou outros media.
A relação entre mapas conceptuais e hipermédia é abordada na seguinte introdução .
Relativamente aos métodos e técnicas usados em Hipermédia, ver a seguinte compilação .

Referências Complementares:

Apresentam-se algumas referências complementares relacionadas com a teoria da comunicação:

1) Um estudo panorâmico sobre 7 perspectivas (retórica, semiótica, fenomenológica, cibernética, socio-psicológica, socio--cultural e crítica) da teoria da comunicação, da autoria de Robert T. Craig .

2) Um conjunto de links para páginas da Web com interesse para estudantes de teoria da comunicação (textos online, acesso a universidades, revistas científicas especializadas e outros recursos online).